Mensagem endereçada à Câmara Técnica do Conselho Gestor criada para monitorar a implantação do Plano Básico Ambiental - PBA da obra da estrada RJ-163, conforme a Licença de Instalação emitida pelo INEA-RJ.
Prezados companheiros e amigos,
Gostaria de fazer algumas considerações pessoais e de caráter geral a respeito do assunto, mais especificamente em relação ao calhamaço técnico – bem ao gosto da tecno-burocracia que assola esses órgãos públicos - de “ salvaguardas e condicionantes “ que nos é colocado ( sob o disfarce da siglas e pseudo-conceitos ) como uma justificativa e cortina de fumaça para a perpetração do absurdo que representa a destruição e o desmonte das encostas já florestadas e ambientalmente consolidadas para posteriormente realizar intervenções para sua reposição ( !?). Uma piada.
Ao meu ver - e no de muitos que têm percepção crítica do que está acontecendo -, todas essas ações não passam de uma maneira solerte de justificar os imensos gastos e lucros das empreiteiras com essa obra...
Confesso que com toda a experiência de vida que tenho, acostumado ao convívio com os absurdos e desmandos administrativos, me sinto chocado com a insensatez desse projeto de intervenção grosseira na estrada, totalmente em desacordo com a ideia da estrada-parque original e consensual, com o agravante de se ignorar as crises ambientais que se avizinham..
Me parece que aceitar as coisas como nos estão sendo colocadas, representa uma rendição e um aval a um plano irresponsável e míope que significará, em prazo médio, não só a descaracterização da região, em particular de Visconde de Mauá e redondezas (como tem acontecido em todas as circunstancias similares), como também a sua lenta e irreversível degradação socioambiental, acarretando com ela todo o quadro de mazelas que estamos cansados de assistir por toda a parte.
Pessoalmente, na medida do possível, continuarei, com ou sem ajuda, a tentar contrapor medidas legais que possam impedir que destruam a magnífica paisagem florestal da Mata-Atlântica que atualmente corre ao longo dessa estrada. Até o momento o MP não se manifestou em relação às Representações que lhe apresentamos, o que é difícil de explicar...
Nesse contexto, os referidos estudos e detalhamentos técnicos apresentados no PBA, que procuram, através de seu ridículo jargão teórico, despistar a capacidade racional do “leigo” e desrespeitam a nossa inteligência dos fatos concretos, representam um atestado da incapacidade e da falência de uma visão ambiental responsável e coerente, que não consegue nem mesmo enxergar as implicações de tais procedimentos num momento de grandes alterações climáticas e geopolíticas. Pior para nós...
Desencadeado esse processo, não haverá mais como detê-lo, e é preciso dizer que serão de pouco significado as atenuações pretendidas pelo P.B.A e todas as nossas preocupações “mitigadoras ”...
Como disse, esta é uma posição estritamente pessoal, um registro (até mesmo um desabafo...) de alguém que não só vem acompanhando, nas últimas três décadas, o lento processo de degradação do lugar, como tem sido a pessoa que mais claramente se posicionou, criticamente, ao longo desses anos, em relação à mentalidade essencialmente exploradora e turística que vem se instalando na região, por comerciantes gananciosos e de visão estreita, mancomunados com os políticos de sempre, medíocres manipuladores da opinião pública, desinformada e inconsistente.
Por outro lado, muitas pessoas que se estabeleceram em Mauá e adjacências, vivem na periferia da realidade rural que as cerca, entretidas e envolvidas na vida cotidiana de “bairros turísticos de veraneio”; encontram-se, na verdade, alienadas dos valores ambientais e agrícolas que representam ainda o cerne da vivência tradicional das comunidades regionais. Um aglomerado de pequenos lotes e casas de veranistas, inviáveis, onde se tenta arremedar o campo. Muitas dessas pessoas sequer se aventuram além da Ponte dos Cachorros... Depois da estrada, esse processo se tornará inexorável e sem volta, para a alegria dos mercadores que invadiram a região.
Volto a lembrar (diagnóstico que fiz anos atrás) que a invasão da região por cinco ou dez mil veículos é insustentável. A qualidade de vida das comunidades, em particular daqueles que para cá vieram com uma preocupação ambiental e cooperativista, terá acentuada a sua deterioração, e estaremos, sem dúvida, seguindo a conhecida “via crucix” da urbanização desenfreada - a chamadaVisconde de Mauá atualmente representa apenas mais um ensaio de laboratório na repetição das experiências de “camposdejordanização” das vilas rurais. “ Busines must go on“....
É lastimável. Atenciosamente, L.M.S.P |